sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O Putsch da Cervejaria do século XXI

Em 9 de novembro de 1923, um homem e seus companheiros se reuniam em uma cervejaria da Alemanha  em que discutiam, bêbados, as questões políticas de seu país. Assim como um rapaz bebe e sai inconsequente tentando ficar com todas as meninas de uma festa, esses homens beberam e saíram inconsequentes às ruas alemãs em um golpe de Estado. Pregavam sua ideologia nazista e queriam tomar o poder, num ato que ficou conhecido como o Putsch da Cervejaria.

É evidente que fracassaram - todos foram presos. Mas, na prisão, a ideia se amadureceu e um deles escreveu um livro que acoplava todos os seus ideias: o Mein Kampf. Era Hitler.
         
O leitor que assista o vídeo da garota ruiva abaixo e veja como se assemelha ao Putsch da Cervejaria de Hitler. Em um banco de praça, acompanhada de seu chimarrão, meio bêbada (ou seria doida naturalmente?), escarrando aleatoriamente suas ideias, sendo filmada pelo celular de um amigo. A semelhança é notável! É natural que o ato tenha partido do Rio Grande do Sul, estado em que mais há descendentes de alemães.


Aos que não assistiram ao vídeo, as ideias da moça se sintetizam em querer recriar a ARENA, o partido político que regeu a ditadura militar de 1964. Planeja reviver todos os ideais do partido, e chega a defender que a antiga ARENA não cometia nenhuma atrocidade através da frase: "Respeitamos a Constituição Federal de 1988, assim como a antiga Arena respeitava a Constituição da época.".


Começa aí a série de incoerências de sua ideologia. A ARENA de 1964 respeitou sim a constituição da época, pois alterou a Constituição, através do Ato Institucional 5, de forma que não fossem crimes as torturas e assassinatos que cometia. 

"O partido não foi o executor, e com certeza a tortura é uma coisa muito errada, triste e lamentável, qualquer idiota sabe disso, mas o partido, em si, fazia política",  afirma Cibele, quando indagada sobre as torturas da Arena de 1964. Não foi? Mas foi o presidente Costa e Silva, do partido que Cibele tanto defende que decretou o AI-5, criando os centros de tortura. É preciso falar dos tipos de torturas que eram cometidos pelos militares a mando de Costa e Silva? Seria suficiente para mim citar o pau-de-arara, tortura à qual um de meus professores foi submetido durante a ditadura simplesmente por protestar contra o regime. Estivesse eu escrevendo esse texto na década de 70, teria também sido torturado no pau-de-arara. Hoje esse professor já não pode mais praticar os esportes que tanto amava, pois teve o ligamento rompido no processo de tortura.
        
A nova ARENA é defendida pela moça como um partido de extrema direita. Assim como o era o facismo de Benito Mussolini, o nazismo de Hitler, as ditaduras todas da América Latina. Como forma de propaganda, Cibele atribuí ao seu partido, bem como à versão antiga, o conservadorismo, o nacionalismo e o tecno-progressismo. Traduzo, ao leitor que tenha poucos conhecimentos sobre a ditadura militar, o conservadorismo como censura, que tanto marcou a ditadura militar e levou à morte de grandes jornalistas que atacaram o regime como Vladimir Herzog. Aqui acrescento uma curiosidade que evidencia a estupidez dos militares: à morte deste jornalista tentaram atribuir a característica de suicídio, como o leitor vê ao lado dada a forca envolta em seu pescoço. Agora, perceba que suas pernas estão dobradas no chão - que suicida experiente conseguiria se encolher tão bem na hora da morte?! Sua morte foi tão logo desmascarada como um homicídio por parte dos militares, o que gerou muitas revoltas.
        
        A segunda característica da Arena, segundo sua potencial recriadora é o nacionalismo. Vê-se bem o nacionalismo de um dos slogans mais difundido do Regime Militar: Brasil, ame-o ou deixe-o. Se Cibele quer ressucitar a Arena, cabe a mim ressucitar a famosa passagem do jornalista opositor do regime Ivan Lessa: "O último a sair apaga a luz do aeroporto."


À última ideia que move a empreitada de Cibele, o tecno-progressismo, não me oponho; defendo. Mas não é um partido da extrema-direita que deverá tomar essa medida. Se isso ocorrer, o progresso tecnológico será envolto em desemprego, miséria, desigualdade, pois haverá mecanização dos trabalhos manuais que geram tanto emprego. Essa forma específica de progresso deve vir para todos e ser alcançada ao lado de uma melhor qualificação do profissional para que trabalhe numa área em que não possa ser substituído por máquinas. É um processo que pode contribuir muito para uma melhoria na educação, mas para isso deve ser gradual e vir para todos. E não implantado de forma impulsiva por um governo de extrema-direita que governará para poucos.

E a maior ironia é que a tal Cibele defenda tanto um governo de estrema direita tendo ela sido beneficiado por um projeto do governo esquerdista de Lula e Dilma: o PROUNI, como consta em seu currículo que você vê clicando aqui. Ela defende inclusive que acabe o sistema de cotas, raciais ou sociais. Ela foi favorecida pelas cotas sociais! Não fosse por essa políticas, nunca teria ingressado na faculdade.

Muita gente ainda desconhece o caráter abominável da ditadura militar. Peço a estes que acompanhem a cobertura que logo será feita da Comissão da Verdade. A comissão esta prestes a desmascarar vários crimes que ocorreram durante a ditadura que até hoje são ocultados pelos militares. Meu desejo é que esta atinja proporções endêmicas assim como o atual julgamento do Mensalão. Este será o passo inicial para que o povo abra seus olhos.

Mas há um problema na Comissão da Verdade: é que os criminosos descobertos por ela não poderão ser condenados devido a uma lei imposta pelos próprios militares durante a ditadura. Isso é espantoso! E é assim que todos deveriam definir este artigo primeiro da lei número 6683:

Art. 1º É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexo com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos políticos suspensos e aos servidores da Administração Direta e Indireta, de fundações vinculadas ao poder público, aos Servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário, aos Militares e aos dirigentes e representantes sindicais, punidos com fundamento em Atos Institucionais e Complementares (vetado).

Em um ponto a Cibele está certa no vídeo, "Não adianta ficar só falando, que a situação tá uma merda todo mundo sabe, mas tem que fazer alguma coisa." 

Pois saiamos às ruas de nossas cidades! Ainda há chance de que a lei seja revogada e que os torturadores do regime sejam devidamente punidos. A condição é que o povo faça barulho; que o povo volte àquela juventude dos caras pintadas em que todos os brasileiros saíam às ruas para se manifestar. Vamos às ruas! É fácil organizar protestos até pelo facebook; o que importa é se mover.

Conversei com colegas da USP e na faculdade já há princípios de manifestação pelo fim da lei da anistia. Aqui na minha cidade, São José dos Campos-SP, estamos buscando apoio para começar as manifestações. Organize-se e movimente-se em sua cidade! Vamos zelar pela nossa pátria e impedir que a Ditadura Militar volte! Vamos prender os criminosos do regime e suprimir tentativas como essa de reconstrução da Arena. Zelemos pela igualdade, pela liberdade, pela democracia! 

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