A notícia diz respeito a uma menina que sofria bullying na escola por ter dois pais e mandou uma carta ao presidente Obama relatando o sofrimento que a ela era inerente e com o qual tinha de conviver todos os dias por culpa do preconceito.
Quando vejo notícias como essa, leio-as cheio de esperança. Li atentamente a resposta de Obama e notei a importância que o jornalista deu à notícia. Passou-me que a sociedade estivesse evoluindo, que as pessoas estivessem se conscientizando de que era errado julgar uma pessoa pela cor, pelo gênero ou pela classe social, ainda melhor: que era errado julgar uma pessoa, vista que a ideia de livre-arbítrio já foi tanto refutada, tornando impossível que alguém escolha seu próprio caminho, apenas é condicionada pelo mundo ao seu redor a seguir um caminho; mas isso é assunto para uma futura crônica.
Eu estava errado. A notícia foi feita por um jornalista, a carta foi respondida pelo presidente dos Estados Unidos; somente uma camada de seres pensantes abandonou os preconceitos. Há ainda um grande abismo que separa o intelectual jornalista do cidadão médio. Este último ainda se nega a aceitar que todos os seus preconceitos são, de todo, infundados. É o que observo sempre que, ao final de alguma notícia, sou levado pela tentação a ler os comentários dos leitores.
Ó, malditos leitores que não entendem a essência do que estão lendo!
Ó, malditos comentários! Queria não lê-los; mas tenho como princípio que não devo ignorar nada: por mais repugnante que seja, é a realidade.
Já dizia Nietzsche: "O desiludido fala - 'Esperava um eco, mas só ouvi elogios'". É o que penso sempre que escrevo e falho na minha missão de fazer com que as palavras penetrem e ecoem na mente do leitor e façam-no pensar no que leu. É legal ouvir de vez em quando "Você escreve bem", não peço para que parem de dizer isso, mas não é por isso que escrevo. Meus motivos são muito mais profundos, escrevo por uma necessidade de demonstrar o que sinto, e, através dos meus sentimentos, ajudar o leitor a compreender os seus.
E então vêm os comentários... O pior é que os que comentam não se preocupam nem mesmo em elogiar o jornalista que escreve uma matéria incrível como aquela. Eles fazem pior - afirmam ter lido o texto e comentam como quem não entendeu nada do que leu, não sentiu o que leu. Não cheguei ao ponto de escrever para jornais famosos, mas conheço jornalistas e nem precisaria ter falado com eles para entender o que pensam nesse momento: "Falhei em minha missão, sou um inútil".
Aqui cito o infeliz comentário que me motivou a escrever a crônica:
Imagina ser filha de dois homens? Deus fez MACHO E FÊMEA! O resto e PECADO!!!
Religião, se insiste em fazer frente à razão mesmo no século XXI, porque não se atualiza? A bíblia foi criada séculos atrás e predominou nos anos chamados de Idade das Trevas, quando todo o conhecimento foi perdido. Os renascentistas se esforçaram para recriar a religião cristã segundo os valores da nova era em que renasciam os conhecimentos perdidos durante a Idade das Trevas - conseguiram criar correntes como o calvinismo e luteranismo, mas não tiveram maiores avanços, barrados pelo Tribunal da Inquisição.
Ora, a Igreja incinerou, torturou, matou todos que eram contrários às suas ideias. Volte ao comentário citado anteriormente. Imagine alguém com esse pensamento com um cargo de poder como o que tinham os líderes da Igreja Católica durante o período vigente da Inquisição. Se a Bíblia diz que os homossexuais devem ser punidos com a morte, que atos teria o "comentarista" realizado na situação descrita?
Não sou contra a religião, acredito que um deve respeitar a cultura alheia, à medida que todos devem respeitar a cultura do primeiro. Dessa forma, todas as culturas devem se respeitar, com um porém - e aqui vem o que me levou a elaborar o título: uma cultura deve necessariamente respeitar a liberdade do outro. Só quando esse equilíbrio for alcançado é que haverá paz no mundo, vista que é utópico, repugnante e errado querer eliminar todas as culturas para que só prevaleça uma alegando que isso traria paz.
O título faz alusão a uma das instruções ao se fazer uma redação para o ENEM:
“Elaborar uma proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos"
Por tanto, termino seguindo essa regra criada pelo exame e colocando ela mesma como conclusão. Não importa a proposta de intervenção que você faça para o mundo, mas respeite os direitos inalienáveis ao ser humano. Siga a religião ou crença que você quiser, mas respeite as criações tão criativas que cria e a vida tão cheia de vida que vive essa admirável criação, divina ou natural - não importa como você o veja -, apenas compreenda a beleza do ser humano: não lhe tire a liberdade, não lhe tire a vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário